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As comunidades ciganas estão envoltas em estereótipos. Ainda que séculos já tenham se passado desde a sua presumida chegada ao Brasil em 1500, as pessoas que compõem essas comunidades costumavam ser chamadas de "ladrões" e "trapaceiros". Talvez pelo seu histórico de povos andarilhos e nômades isso fosse intensificado, mas é inconcebível que em pleno 2021 isso ainda aconteça.
A palavra "cigano" deriva da palavra espanhola "gitano". Phillipe Cupertino Salloum e Silva Luiz Eduardo de Vasconcellos Figueira explicam, em seu artigo de 2019 "Direitos, Identidade e Povos Ciganos: um estudo sobre as fronteiras dos processos de normatização da ciganidade no Brasil", que, desde o século 15, o termo era utilizado como um insulto.
Segundo os autores, a palavra "cigano" apareceu em língua portuguesa pela primeira vez em um poema palaciano de Luís da Silveira, intitulado "As Martas de D. Jerónimo" e publicado em 1516. Ainda assim, alguns estudiosos afirmam que o termo teria sido registrado pela primeira vez na língua portuguesa na peça teatral "A farsa das ciganas", de Gil Vicente, apresentada pela primeira vez no ano de 1521.
No início do século 18, um padre britânico chamado Raphael Bluteau, conhecido como um grande lexicógrafo da língua portuguesa e autor do primeiro dicionário de Portugal, significou o termo "cigano" com as seguintes palavras:
"Ciganos – Nome que o vulgo dá a uns homens vagabundos e embusteiros, que se fingem naturais do Egito e obrigados a peregrinar pelo mundo, sem assento nem domicílio permanente, como descendentes dos que não quiseram agasalhar o Divino Infante quando a Virgem Santíssima e S. José peregrinavam com ele pelo Egito."
O significado do padre demonstra o preconceito por parte da igreja com os ciganos já presente na época. Os costumes dos povos ciganos, como o não batismo das crianças, era visto como uma provocação e um desrespeito à moral religiosa.
Um século depois, o brasileiro Antonio de Morais Silva reeditou o dicionário do Padre e redefiniu o termo cigano para o seguinte significado:
"Raça de gente vagabunda, que diz vem do Egito, e pretende conhecer de futuros pelas rayas, ou linhas da mão; deste embuste vive, e de trocas, e baldrocas; ou de dançar, e cantar: vivem em bairro juntos, tem alguns costumes particulares, e uma espécie de Germania com que se entendem. (...) Cigano, adj. que engana com arte, subtileza, e bons modos."
O "novo" significado mostra que, ainda que os julgamentos acerca dos ciganos continuasse a permear a sociedade da época, a imagem relacionada a esses povos foi transformada à medida que os ciganos, enquanto raça e grupo passaram a carregar uma maior importância, especialmente em relação aos seus aspectos culturais.
Hoje, o dicionário online Michaelis descreve "cigano" como "povo nômade, originário do noroeste da Índia, que emigrou para a Europa Central e que, atualmente, encontra-se presente com sua cultura e costumes em vários países do Ocidente. Dedica-se ao comércio de cavalos, música, prática das artes divinatórias, artesanato, venda de miudezas etc."; além de "que ou aquele que tem grande habilidade para o comércio"; e "que ou aquele que leva vida itinerante e/ou de boêmio".
Pode-se perceber que o significado atual é totalmente diferente dos presentes em séculos passados. Porém, ainda que o termo apresente uma outra ideia hoje, as comunidades ciganas ainda são vistas com olhos preconceituosos, e os mesmos comentários feitos antigamente ainda estão presentes na boca do povo. Os ciganos ainda são, muitas vezes, vistos e taxados de "vagabundos" e "ladrões".
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